Todas as vezes que falamos de alguém querido, que se encontra na pátria maior, nos exprimimos com uma palavra só... Saudades!
Saudade é algo que dói, mas é uma dor que alimenta nossa alma nas recordações dos momentos agradáveis que se passaram e como foram agradáveis, até gostamos de sentir essa dor.
Falar de Dona Gina é falar de amor, pois ela, como uma grande mãe, enlaçava em seu coração a todos os que a ela se achegassem. Paciente em ouvir, criteriosa em aconselhar, sincera em esclarecer, pronta em ajudar no que fosse necessário e muito objetiva em indicar o caminho correto a ser seguido.
Conheci Dona Gina por volta de 1967, quando adentrei à Federação Espírita do Estado de São Paulo (ainda na antiga Sede, na Rua Maria Paula). Ela ficava no saguão, informando a quem chegasse pela primeira vez, a diretriz que a pessoa tinha que tomar para iniciar o atendimento na Casa. Sempre sorrindo.
Ao passar do tempo, a amizade foi aumentando, mesmo porque, depois de eu conhecer o Teodoro, que sempre lhe foi um grande amigo e companheiro de estudos da FEESP de Dona Gina, a amizade foi nos aproximando cada vez mais. Eram da mesma turma de curso.
Às vezes, vinha à nossa casa para confabular assuntos sérios da FEESP, com o Teodoro, mesmo antes dele se tornar presidente da Federação, pois já havia diversos anos que fazia parte da Diretoria da mesma. Então, quando havia algum assunto que envolvia a seriedade do andamento dos trabalhos da Casa, ela vinha conversar com ele em nossa casa.
Por volta de 1980/1981, comecei a frequentar sua casa aos sábados, quando ela administrava passes em crianças e eu levava os meus, pois meu Paulo tinha sérios envolvimentos espirituais que não lhe permitiam ter um sono normal, ocorrendo isso, todas as noites. Todas, durante quatro anos. Foi justamente com a sua assistência espiritual que as coisas se normalizaram.
Ela me convidou a participar de seus trabalhos espirituais às terças-feiras. Aceitei e estou até hoje. Somos um grupo unido, como uma verdadeira família, a família da Dona Gina. Temos um profundo amor e carinho de uns para com os outros.
Descrever a Dona Gina é descrever um coração enorme de uma mãe que ama infinitamente seus filhos e deseja que estejam bem, equilibrados, serenos, felizes, com progressos tanto espirituais como materiais. E ela lutava para que todos os que a procurassem ficassem bem, sempre melhor do que quando até ela chegassem.
Conseguia quase sempre seu intento, pois entrava o mérito e o esforço de cada criatura em buscar o Cristo para sua renovação interior. Depois da assistência espiritual, efetuada em seu grupo, não deixava de indicar os cursos da doutrina na Federação Espírita do Estado de São Paulo, para que a pessoa aprendesse a pescar e não receber sempre o peixe pronto
Era muito fiel aos compromissos espirituais. Até o final de sua existência ela não faltava ao trabalho assumido na FEESP, estava sempre de prontidão em seu Grupo, todas as terças e aos sábados à noite.
Mesmo no dia em que foi enterrado seu filho, que sofrerá uma morte violenta, a noite ela estava no salão dirigindo o trabalho de desobsessão. Era de uma garra invejável... a lealdade ao compromisso assumido perante o plano espiritual, era mais importante que a enorme dor que estava sentindo em seu coração…
A logo da FEG tem hastes em azul que simboliza o ”telhado” do rancho da Gina. A abertura no topo significa o caminho aberto para a espiritualidade!
Aprendizados com Dona Gina
1° - HUMILDADE
Relatava com a maior simplicidade que ela era semianalfabeta, pois havia aprendido a ler e escrever no programa Mobral, quando já matrona, casada, porque o que ela mais queria era poder ler os livros da Codificação, André Luiz e outros com mensagens tão lindas que vinham do plano maior pelos mentores. Aprendera a ler e escrever sim, mas a matemática era a grande barreira para ela. Sua preparação para o Evangelho da noite dos trabalhos era a leitura de uma passagem do livro e depois ela relatava fatos vivenciados por ela, conforme o evangelho orientava.
2° - SIMPLICIDADE
Com seus gestos simples, não temia em falar sobre os exemplos do evangelho, levando à criatura sua própria exemplificação, de sua vida sofrida, pois desde pequena ela tinha que ajudar a mãe no serviço e sustento da casa, por isso não fora nunca encaminhada para a escola.
Certa vez nos contou, quando ainda era criança, para poder levar algum pãozinho para casa, pois a família tinha extrema necessidade, ela recolhia as flores das coroas do cemitério, que eram jogadas fora, pois residia perto do cemitério, recolhia aquelas que ainda estavam viçosas, fazia um ramalhete e levava na padaria, para oferecer à esposa do padeiro, para poder levar algum pãozinho para os irmãos. Quando adolescente, aprenderá a fazer flores de tecido, tinha todos os moldes, fazia flores lindas e as vendia.
3° - AMOR
Se fosse possível fotografar o amor, poderíamos apresentar a foto dela, ou então abraçá-la, pois seu abraço era por demais reconfortante e acolhedor. Transmitia uma segurança e carinho que somente um coração de mãe pode sentir, por isso que todos os que a conheceram e com ela conviveram a denominaram A MÃEZONA.
Hoje, na pátria espiritual, ela ainda é a nossa mãezona, pois nos ama e nos trata com todo carinho que existe em seu coração, nos auxiliando e acima de tudo defendendo-nos dos ataques espirituais que muita vez o trabalhador é visado.
4° - SERIEDADE
Jamais, em momento algum, houve situações em que ela se aproveitasse de coisas que poderiam beneficiar-lhe. Sempre teve o máximo respeito pelo patrimônio alheio, sempre lutou muito com seus próprios esforços para ter algo de seu. Inclusive, ela trabalhou muito como ajudante pedreiro, na construção de sua casa, que ficava na Av. Bosque da Saúde e, quando ela nos contava isso, ria como a dizer “nunca tive medo de batente, fosse qual fosse”.
Quando o então prefeito de São Paulo cedeu à FEESP o espaço onde hoje se encontra a Casa Transitória Fabiano de Cristo, que na época era uma larga extensão, mas o terreno era um brejo, cheio de mosquitos e rãs, formou-se um pequeno grupo, com o Teodoro inclusive, e, enquanto as máquinas estavam aterrando a gleba, para deixar o solo favorável para a construção dos que hoje são os vários pavilhões, esse pequeno grupo, se aproveitou do barro para fazer de maneira rudimentar tijolos para poderem construir um pequeno quarto, onde pudesse desenvolver a assistência espiritual de desobsessão. Foi o primeiro trabalho espiritual que existiu na Casa Transitória.
Lembro-me quando, rindo nos contava, que durante a assistência espiritual ouviam-se tapas nas pernas dos trabalhadores, para espantar os mosquitos que insistentemente procuravam picar os médiuns. E quando reuniam-se os membros desse pequeno grupo, relembravam acontecimentos da época do início da construção da Casa Transitória, eram só risos e piadas de como eles conseguiram superar os empecilhos, até que fora destinada uma sala na antiga Sede à Rua Maria Paula.
Continuaram os trabalhos no centro da cidade. Esse pequeno grupo, hoje se encontra totalmente na pátria espiritual, e todos estão ligados a nossa Fraternidade Espírita Gina (FEG).
Era uma criatura tão amorosa que, quando sabia de algum companheiro da FEESP, ou conhecido seu, que estivesse no hospital, estivesse em casa doente, ou alguém que tivesse desencarnado, ela fazia questão de permanecer a noite no hospital ao lado do doente, ou fazia o Samaritano na casa do doente, e velava a noite inteira o companheiro que tinha voltado para a pátria espiritual, fazendo preces, administrando passes, consolando os familiares, falando da continuidade da vida, para confortar a família.
Um dos motivos que, depois de diversos anos de viuvez, ela voltou a casar, foi porque havia ido residir com uma das filhas, mas tinha dificuldade para continuar com suas tarefas, por já estar com idade um tanto avançada e, às vezes, voltava sozinha altas horas da noite. O segundo matrimônio foi, portanto, aventado para poder continuar as assistências que ela se sentia bem em realizar. Somente o amor explica isso.
Na ocasião do desencarne de seu filho Áureo, que fora assassinado de maneira muito violenta, ela, preocupada sobre como o filho estaria no plano espiritual, ela foi em busca do colo e orientação do Chico Xavier. Este lhe orientou que efetuasse um trabalho em prol das crianças pobres, tipo enxovais, oferecesse à Maria Santíssima e Meimei, que com certeza o filho seria socorrido do resgate difícil pelo qual havia passado.
Voltou e iniciou a preparar os primeiros 30 enxovais e foi levá-los ao Chico. Quando lá chegou, o Chico lhe explicou que ele não tinha esse tipo de trabalho em seu grupo, mas que fosse levar os enxovais em Sacramento, para as “meninas”, que eram Tia Heigorina, Nizinha e Maria. Já fazia muitas décadas que esse trabalho de entrega de enxovais era efetuado em Sacramento, trabalho este iniciado pela mãe da Tia Heigorina, a Sinhazinha, e que a Tia Heigorina e as irmãs sempre deram continuidade.
Iniciou-se, assim, o compromisso de nosso Grupo, levar todos os anos os enxovais para Sacramento, uma vez ao ano, o que permanece até os dias de hoje. A primeira remessa foram 30, depois 50, 80, 100. Quando alcançamos 200 foi no ano que a Dona Gina retornou para a pátria maior. Continuamos todos os anos, há cerca 27 anos.
Quando ficou doente e percebeu que o problema era sério, ela iniciou a nos recomendar que não fechassem o “Rancho”, que é como ela chamava o grupo de trabalho, pois a sua preocupação era que ela retornando à pátria espiritual, nos dispersaríamos e o Grupo iria se desfazer. Preocupava-se muito com a continuidade da tarefa dos enxovais, mas, graças a Deus, o grupo continuou, acredito que está mais sólido do que nunca.
Inicialmente, não tinha denominação. Dona Gina dizia que o mentor do trabalho era o Pai Jacó, ela sonhava em ter seu trabalho filiado à FEESP, mas acreditava difícil filiar o título “Centro Espírita Pai Jacó” à FEESP, pois pensava ela que seria mal interpretada por causa do nome, dando conotação que os trabalhos lá efetuados não seriam de fidelidade kardecista.
Quando ela desencarnou, o grupo permaneceu ainda na Rua Apeninos por alguns anos e como depois recebemos um espaço maior na Av. dos Imarés, 564, em Moema, ao transferirmo-nos, resolvemos fundar o Grupo Espírita Gina, com diretoria regularmente constituída, até que uma década mais tarde, por orientação espiritual pelos trabalhos lá desenvolvidos, recebemos a denominação de Fraternidade, o que permanece até hoje.
Casa simples, mas aconchegante. Pessoas simples, mas amorosas. Todos são bem-vindos, desde que se agreguem aos trabalhos, respeitando a ordem e disciplina da Casa.
Rogamos sempre ao Mestre Maior e aos mentores que nos amparem para que não nos distanciemos do compromisso assumido perante o plano maior, respeitando a fidelidade à Codificação a Jesus e a Deus nosso Amado Pai. Que Dona Gina continue nos tutelando e nos inspirando junto com os mentores da Casa, para dar continuidade às tarefas.
por Ombretta Gori Sacco
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